O advento das tecnologias digitais, que vêm transformando radicalmente a sociedade e os estilos de vida, impacta fortemente a educação e nos obriga a repensar a tradicional relação ensino-aprendizagem e a evoluir em consonância. Estamos sem dúvida testemunhando o começo de uma nova era, cujos desdobramentos ainda não conseguimos prever. Contudo, por mais que as novas ferramentas sejam úteis e práticas, ainda estão longe de substituir a figura do professor, cujo papel modifica-se e amplia-se, sem contudo perder sua centralidade. Porque aprender não significa simplesmente acumular e organizar informações, tal qual um computador. Envolve cada ser humano em sua integralidade, com suas características, peculiaridades e necessidades específicas.
Certo,
esse mesmo professor deve necessariamente assumir uma postura mais técnica, no
sentido de aprender a utilizar de forma eficiente os novos meios. Mas, o que
são algumas décadas de progresso quando comparadas aos milhões de anos de
evolução que nos deram a conformação perfeita de homo sapiens, registrada no
código complexo do DNA?
Com
isso quero dizer que as tecnologias não alteram essencialmente a forma como
aprendemos, apenas criam facilidades e meios.
Os
cursos à distância, por exemplo, não foram inventados pela Internet. Eles já
existiam antes, na forma de cursos por correspondência, só que usavam a
tecnologia da imprensa e dos correios.
Na
transição para o ensino mediado pela tecnologia, as mudanças são muito mais de
forma do que de essência e de conteúdo. E, como já escrevi uma vez, um bom
professor presencial será um bom professor online, mas não há tecnologia que
salve um mau professor.
Transcorridos
quase três anos da epidemia da Covid-19, o ensino online se consolidou
definitivamente e agora compete em pé de igualdade com o ensino presencial.
Para quem ministra cursos particulares, como é o meu caso, a adaptação foi
rápida e fácil e trouxe múltiplas vantagens, que contrabalançam as perdas
naturais.
A
seguir, exemplifico essa nova realidade multifacetada, através de quatro cursos
diferentes, cada um representando um dos idiomas que ensino: Inglês, Francês,
Espanhol e Português, tanto presencialmente quanto online.
LUCAS – PORTUGUÊS, PRESENCIAL
O
Lucas é francês e agora mora no Brasil. Precisa desenvolver rapidamente a
comunicação em nosso idioma de forma a ampliar suas oportunidades
profissionais. Curiosamente, ele levou dois anos e meio para procurar e
encontrar este professor que, coincidentemente, mora na mesma cidade que ele (Timóteo, Minas Gerais). Durante esse período, ele continuou trabalhando
online para clientes franceses e, portanto, podia perfeitamente prescindir do
português. O que o teria levado tanto tempo para se decidir?
Pode
ter havido alguma resistência, só rompida pela necessidade. Mas o fato é que,
desde o nosso primeiro encontro, mostro para ele a importância e a beleza do
nosso idioma (considerado um dos mais bonitos do mundo em qualquer lista que se
busque no Google), além da relevância da cultura brasileira, representada pela
música, por exemplo. Em resposta, ele tem se dedicado com entusiasmo ao
aprendizado do Português, em um curso intensivo de uma a duas horas por dia.
No caso dele, a aprendizagem do vocabulário é facilitada pelos contatos
cotidianos. No entanto, a pronúncia e a entonação exigem um trabalho mais
demorado, pois implicam em novos sons, novas formas de articulação, nova
sensibilidade e, muitas vezes, um raciocínio diferente da língua nativa. Ele
poderia passar anos assistindo a vídeos e treinando com programas de
aprendizagem e mesmo assim não atingiria a qualidade e o resultado que posso
lhe oferecer em alguns meses.
EDIMAR – INGLÊS, ONLINE
Edimar
é diretor em uma importante empresa multinacional, na qual o Inglês é a língua
de comunicação quando se trata intercâmbios multinacionais, o Francês
desempenha papel facilitador nos contatos com França, Bélgica e Luxemburgo e o
Espanhol permite maior fluidez dentro da América Latina. Ou seja, um ambiente
de negócios multilíngue, extremamente dinâmico.
Foi
isso que o levou a estudar Francês, Espanhol e Inglês comigo, sempre via
internet. Das três línguas, o Inglês é sem dúvida a mais trabalhosa, por isso
procuramos manter um programa semanal de duas aulas de uma hora.
Como
sua agenda é apertada e imprevisível, com reuniões e viagens sendo decididas
rapidamente, é preciso encontrar uma solução de continuidade, sempre que possível ministrando aula no local em que o aluno se encontra. O trabalho
conectado é neste caso mais do que recomendável.
MARIA PAULA – FRANCÊS, PRESENCIAL
Entramos
na área gratificante de trabalhar com os jovens. Eles são sempre desafiadores,
pois não possuem a personalidade formada e os hábitos sedimentados dos adultos.
Isso faz com que seu estilo seja mais difícil de identificar, pois estão em
mutação. Por outro lado, precisam e buscam (de maneira geralmente implícita) de
mais referências, por exemplo, de como estudar e organizar o tempo. Mas, se a
gente insistir muito, eles fazem o contrário (risos).
Têm
um charme especial para empurrar com a barriga e adoram mudar de assunto (Que
tal vermos agora aquele vídeo de Kpop?). Afinal, não fazem outra coisa senão
estudar, incluindo matérias que detestam e das quais gostariam de se ver livres
(igualzinho a nós, quando estávamos no lugar deles).
Há
também o lado paródico dessa relação, com novas piadas chegando a cada dia: -
Sabe o que acaba com meu dia? - A noite!; - A plantinha foi ao hospital, mas
não pode ser atendida. Por quê? – Porque só tinha médico de plantão.
Como envelhecer numa relação dessas?
ANDRÉ – ESPANHOL, ONLINE
André
começou o curso de Espanhol com promessas (do professor) de adquirir
rapidamente fluência no idioma. Cinco meses após, em um curso extensivo de duas
aulas semanais de 60 minutos (ou seja, cerca de 40 horas de aula), ele já
adquiriu conhecimentos que o qualificam como um usuário intermediário do
idioma, com boa pronúncia, vocabulário bem assentado e conhecimentos essenciais
de gramática. De sorte que já começamos a acelerar o curso, concentrando nossas
aulas na área do verbo, para que ele, que já se expressa com desenvoltura no
presente, possa fazer o mesmo no passado e no futuro.
Trata-se
de mais um exemplo da eficiência que se pode conseguir no ensino/aprendizagem
do Espanhol, uma língua enxuta, muito bem definida, próxima do Português, além
de bonita e agradável de falar.
O
segredo reside no trato da pronúncia e da entonação. O Espanhol difere do
português em detalhes, basicamente. A visão clara desse aspecto permite
acelerar o curso e evitar ao mesmo tempo o maior risco dos brasileiros que
aprendem o idioma: a tentação do portunhol.
Espanhol
é uma língua com apenas cinco sons de vogais (que maravilha, comparado ao
Português do Brasil que possui doze sons de vogais – três para o E, três para o
O e dois para o A, o I e o U, respectivamente). Dentre as consoantes, basta
adaptar os sons que já temos em nosso idioma (R, L, M e N, por exemplo). O J e
o G (diante de E) se pronunciam como nosso R gutural. Sobram os dois Ls juntos
(que antes formavam um dígrafo chamado LHE, que desapareceu) e o Y, com
pronuncias que variam de acordo a região e o país. São justamente essas letras
LL e Y que dão os sotaques distintivos de cada hablante de Espanhol (semelhante
ao que acontece no Português com o R, diferente em cada região.
Para um professor habituado a lidar com as complexidades do Inglês e do Francês, que precisam de anos para serem pronunciados perfeitamente, ensinar Espanhol é mosca no mel. Quando temos pela frente alunos jovens e dinâmicos, o resultado é garantido.
Mas a promessa deste professor de ensinar Espanhol de forma rápida e
eficiente vale para pessoas de qualquer idade e perfil.
_______
Abrão Brito Lacerda