Com
as transformações ocorridas desde o início da pandemia do Coronavírus, o ensino
de idiomas passou por diversas mudanças e adaptações, sendo a principal delas a
adoção do modelo online, que passou de novidade a parte integrante do nosso quotidiano.
Incialmente vistas como mitigantes e até mesmo com certa desconfiança, as aulas
mediadas por tecnologia acabaram não apenas se mostrando práticas, mas também
efetivas, permitindo compensar a natural desvantagem da distância com outros pontos
positivos: segurança, flexibilidade, interatividade, acesso direto aos recursos
da Web e quebra do paradigma do local em que você se encontra.
Como
os demais profissionais dessa área, eu desconfiava dos cursos virtuais, afinal,
tinha passado três dezenas de anos ensinando no tête-à-tête. Haveriam de ser
temporários, pensei como tantos outros, sem ao menos me dar conta que a maioria
dos meus cursos eram individuais e permitiriam uma transição sem trauma para o
modelo à distância. Contudo, após quase dois anos de uso continuado das
ferramentas tecnológicas, minha percepção mudou e as diferenças em termos de
estilo de aula e rendimento são hoje para mim muito menos acentuadas.
Uma das diferenças mais marcantes é a quantidade de esforço necessário, tanto de parte do aluno quanto do professor. Em uma aula online, como não se pode usar material gravado, como áudios e vídeos, toda a comunicação oral deve ser conduzida pelo professor. O aluno perde em primeira mão o contato com outras pronúncias da língua que está aprendendo, sobretudo a tão propalada “nativa”, uma espécie (felizmente) em extinção. A maneira de superar esse entrave é motivando o aluno a acessar os materiais oferecidos pela Internet, que são infinitos.
Com as crianças, o trabalho online é mais complicado e só
é recomendado na impossibilidade de um curso presencial. As razões são várias e
os pedagogos e psicólogos podem explicar melhor, mas de uma forma geral a
criança precisa de duas coisas capitais que o computador não consegue oferecer:
interação (proximidade física) e liberdade de movimento. Além das mudanças
rápidas de curso: com a criança é preciso pensar rápido e ser criativo. Essas
transições rápidas são complicadas na web, além disso, não dá para improvisar.
E deixar os pequenos grudados a uma tela durante horas é um verdadeiro ato de
tortura.
E,
falando de crianças, elas são uma experiência pedagógica marcante. Não há como
ser o mesmo (adulto) quando se está ensinando crianças, é preciso fingir como
elas, usar mímica e muitos gestos. A até
as partes árduas da língua, como a gramática, precisam ser ensinadas como se
fosse um jogo. A partir dos dez anos, elas dão um salto, aí você pode começar a
apertar os parafusos (risos).
A seguir, imagens de um dia do meu trabalho, repartido entre
aulas de Inglês, Francês e Espanhol. Espero que os comentários possam ser úteis
para quem deseja começar cursos semelhantes.
Kívia tem uma rotina dura de médica, mas usa bem as janelas para fazer outras coisas, como o curso de Francês que tanto desejava. Como já veio pronta, com gosto pelo idioma e pela cultura, seu curso híbrido (presencial e online) segue sem surpresas. Ainda iniciante, ela estará comunicando bem dentro de um ano, com uma carga horária de uma hora e meia por semana em aula única.
Edimar é executivo de uma importante empresa, tem uma daquelas agendas imprevisíveis, com reuniões a qualquer momento. Ainda assim, ele se organiza para estudar Inglês e Francês de forma muito disciplinada. Com Inglês avançado e Francês intermediário, pretende começar Espanhol no ano que vem (com este mesmo professor), consolidando nosso laço de professor/aluno, construído graças à Internet. O que sustenta nossos cursos é a comunicação, com mudanças rápidas de temas e de foco.
O curso da Maria Paula começou em Fevereiro de 2020, quando ela tinha 8 anos e havia regressado com a família de uma estada na França. Na sua idade (9 anos atualmente) há muita dispersão com relação à forma, o que significa que ortografia e gramática têm que ser trabalhadas pacientemente. No mais, ela faz lindos desenhos no quadro, utilizando meus pincéis, e, quando tem uma folga, corre para brincar com os “juguetes” (brinquedos) que um dia pertenceram a meu filho. Ela já começou a transição para a pré-adolescência, idade em que eles dão um salto.
Farah é o pai de Maria Paula e gerente do departamento de automação de uma importante empresa. Sua agenda também sofre percalços e mudanças de última hora. Com uma relação ao mesmo tempo pessoal e profissional com o idioma, ele busca aprimoramento contínuo, através de uma comunicação multilíngue, que não se restringe apenas ao Inglês.
Cauã é fluente em Inglês e faz parte do English Club Timóteo, onde nos encontramos quinzenalmente para praticar o idioma. Já teve sua porção de Espanhol, mas hoje se dedica ao Francês, depois de ter refugado uma vez, por confundir muito com o Inglês. Tem preguiça do multilinguismo, mas ao mesmo tempo muito interesse, pois pretende seguir uma carreira na área de relações internacionais.
Giovana foi durante muito tempo minha aluna de Francês e é também minha colega de English Club, onde nos premia com seu ótimo Inglês. Seu trabalho em uma plataforma offshore é exigente e impõe uma grande dose de disciplina física e mental. Mas também concede folga regeneradoras, as quais são muito bem usadas para aprimorar sua cultura e seu gosto pelos idiomas.
(16:30)
– Jonathan – Curso de Inglês – online
Jonathan
é engenheiro de uma importante mineradora brasileira com atuação em Moçambique,
na África. Por isso, ele tem temporadas de trabalho entre os dois continentes.
O que não interfere no andamento do nosso curso, o qual é um exemplo
excepcional das possibilidades das ferramentas virtuais. Começou como iniciante
e agora já está indo para o nível intermediário, sem que jamais tenhamos nos encontrado
pessoalmente.
Hélcio mora na cidade vizinha de Ipatinga e se desloca diariamente para Timóteo. Quando acontece de ficar em casa, continuamos o curso online. Mas na maioria do tempo, seguimos o modelo presencial, com seu elevado valor agregado. Ele é gerente de manutenção de uma importante empresa, tem planos de viagem e ambições profissionais e o Inglês é mais do que nunca uma prioridade.
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Abrão Brito Lacerda