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ENSINO DE IDIOMAS EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

 


            Com a pandemia do Coronavírus e as consequentes restrições às reuniões, a educação mudou muito e em pouco tempo, afetando, entre outros, os cursos de língua estrangeira. O modelo operacional hoje em dia é aula individual ou em dupla, o que venho praticando há muito tempo. Por outro lado, a intensificação do trabalho online exige flexibilidade, rápida adaptação e habilidade para utilizar as ferramentas virtuais, além de colocar à prova a metodologia utilizada.

            Neste texto, discorro brevemente sobre meu método de ensino de idiomas e trago alguns exemplos de cursos, tanto presenciais quanto online, cobrindo três dos quatro idiomas que ministro: Inglês, Francês e Espanhol, ficando de fora Português para Estrangeiros.         

            Antes de entrar em considerações, gostaria de expressar minha gratidão aos alunos, não apenas os que foram citados neste breve artigo, mas todos os demais, incluindo os ex-alunos. Eles são os verdadeiros responsáveis por essa carreira independente que sustento a tantas anos e não pretendo mudar.  

 

BREVES OBSERVAÇÕES METODOLÓGICAS

 

            Minha metodologia é de natureza comunicativa e pragmática (ou seja, não teórica) e é adaptada para funcionar com qualquer idade, guardadas as devidas proporções. Ela implica em uma abordagem dinâmica, flexível e lúdica, mesmo quando se está lidando com temas espinhosos como a gramática (que todos, justamente, detestam). 

            Aceito crianças estrangeiras que pretendem aprender Português a partir dos cinco anos de idade. Para os brasileirinhos que querem estudar outro idioma, recomendo aos pais matriculá-los a partir dos 8 anos, quando já sabem ler e escrever. A menos, é claro, que a criança tenha um contexto multilíngue em casa. A razão é simples: o que se aprende até os 8 anos é muito pouco, não fará nenhuma diferença quando o aluno chegar aos 13/14 anos e estiver pronto para desenvolver fluência.

Método adaptado a cada curso e perfil
                    Ampla gama de métodos, adaptados a cada perfil.

            O trabalho com crianças requer paciência, repetição e interação física, que, muito vezes, supera a verbal. Entre oito e onze anos, elas respondem com desenvoltura a estímulos como música e dança e têm uma curiosidade infinita por suportes eletrônicos. À medida que crescem, é preciso aumentar os desafios e oferecer ao mesmo tempo oportunidades para que se manifestem com uma expressão própria. A partir dos treze anos, quando já têm bom vocabulário e sentido lógico (para as estruturas da língua), tornam-se excelentes falantes da língua estrangeira.

            Pré-adolescentes podem ser tão rápidos quanto preguiçosos e cheios de mania. Além de serem sensíveis à crítica, como crianças crescidas que não querem mais ser tratadas como tais.

            Os grandes adolescentes e os jovens adultos constituem o público da aprendizagem por excelência, pois já possuem bagagem e seu potencial intelectual é notável. No entanto, como esta é uma idade decisiva nos estudos e na profissão, com a entrada para a universidade e posterior inserção no mercado de trabalho, muitos deles estão sobrecarregados e se tornam faltosos e irregulares. Importante notar que nessa idade as diferenças culturais e sociais se fazem notar de forma mais evidente. O que me leva a lembrar a relação existente entre o nível de conhecimento geral e a  aprendizagem de outra língua.

            Os jovens profissionais e os profissionais maduros formam um público numeroso no segmento de cursos customizados a que pertenço. Seja para iniciar a aprendizagem de uma língua, seja para aprimorá-la, eles sabem exatamente o que querem. Por isso são exigentes e buscam resultados, o que pode se converter em um grande trunfo para o professor.

            Na maturidade, retomamos a ideia de progresso e resultado com mais calma. Os mais velhos têm mais tempo e também precisam de mais para aprender. Podem às vezes se apegar a regras e formalidades - e, por favor, parem com essa mania de falar português na sala de aula! Se interessam por culinária, política, cinema, música, literatura, história, enfim, tudo que tenha caldo cultural. E isso os converte em excelentes alunos.

 

PEDAGOGIA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA DIFERENTES IDADES

 

            Comecemos com esta gatinha cheia de imaginação e energia. Tão cheia que é difícil mantê-la concentrada durante quarenta ou cinquenta minutos. Nessa batalha, nem sempre bem sucedida, utilizo música, vídeos, desenhos e outras atividades lúdicas. Sem perder o foco didático, pois, do contrário, brinca-se e não se aprende.



            Maria Paula dá continuidade ao aprendizado da Língua Francesa, que começou a estudar quando seus pais residiam no exterior. O trabalho implica também na correção de erros recorrentes que a necessidade de comunicação rápida a fez adquirir. Ela aceita desafios, desde que bem negociados, mediante uma recompensa posterior (hehehe!). Com a criança, temos que ter essa duplicidade: cumplicidade e cobrança, mesmo sabendo que ela acaba cedendo, seja para agradar à mãe, ao pai ou ao professor. Mas a graça está no jogo.

            Agora Pedrinho, um guri pra lá de esperto. Ele quer ser astronauta, bombeiro ou jogador de futebol. Mas só se for rico e famoso como Neymar. Então a tia o convenceu que, com tanta ambição, era preciso aprender Inglês.



            Pedrinho está na idade em que se aprende e esquece, sobretudo a pronúncia; então, é preciso repetir e construir o caminho aos poucos. Música ajuda muito neste sentido e passamos boa parte das aulas cantando. Quanto chegar aos doze anos, estará pronto para os voos da fluência, que adquirirá facilmente antes da escola secundária.

            Dar aulas para crianças, por incrível que pareça, é mais difícil e exigente do que para adolescentes ou adultos, em função da responsabilidade. Na criança está a medida do professor.

            Para ilustrar o trabalho com os ados (adolescentes), apresento-lhes primeiramente Cauã, de quem herdei o nariz e o cabelo.





            Cauã começou os estudos de Inglês aos oito anos, após adquirir os rudimentos da língua materna, como ler e escrever. Não demonstrava nenhum interesse especial, o que me fez colocá-lo em uma turma de quatro alunos. Os coleguinhas foram saindo ao longo do caminho, mas ele continuou e, hoje, aos quinze anos, é perfeitamente bilíngue, mesmo sem ter tido uma experiência no exterior.

            Após um breve estágio de Espanhol, nosso trabalho concentra-se agora no Francês, que ele assume igualmente sem entusiasmo, mas com espírito crítico e aberto, pois sabe que pode chegar à universidade - quando a maioria dos seus pares ainda estará lutando para aprender uma língua estrangeira - como poliglota.

            Na era da globalização, tanto faz você estar aqui ou ali para aprender um idioma. Estamos cercados de pluralidade em toda parte e alguns mitos caducos, como o do “falante nativo”, finalmente caíram. Você pode estar em Nova Iorque ou Londres e, ao invés de “nativos”, falar com estrangeiros, que são garçons, taxistas, vendedores ou turistas como você. Você chega e agrega seu sotaque ao melting pot (ou feira livre, se preferir).

            Lucas, abaixo, é o tipo do aluno que chegou pronto. Tinha estudado Inglês até o nível intermediário, mas precisava ganhar fluência. Ele é concentrado, responsável e gosta muito do Inglês, razão por que evolui rapidamente do domínio dos quatro fundamentos. É maleável e se adapta rápido, uma característica muito comum entre os jovens.



            Outro exemplo de maleabilidade e adaptação é a Milena, que faz parte do time dos jovens em idade universitária.  Esta moreninha de olhar quente bate um bolão nos estudos de Espanhol.

            Morando na cidade vizinha de Coronel Fabriciano, levanta-se cedo (cinco da manhã!), corre, se prepara e pega a moto para vir a Timóteo assistir às aulas. Quando chega, está a cem por hora, e eu, no máximo, a setenta!



            Milena está se preparando para prestar o exame do DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera) no nível B2, ou seja, avançado.             Como seu objetivo é entrar para o curso de medicina da Universidad Nacional de La Plata, Argentina, após devida qualificação no exame do Instituto Cervantes, encaramos o desafio com aulas diárias. Já estamos na fase de preparação para as provas, com testes nas quatro habilidades: ler, escrever, ouvir, falar. Com apenas três meses e meio de curso!

            Milena é representativa de um contingente que tem aumentado muito nos últimos anos: o de jovens brasileiros que vão cursar medicina na Argentina. Inicialmente as universidades públicas de lá aceitavam os brasileiros sem conhecimento do idioma espanhol, o que deve ter gerado uma onda de portunhol mais do que previsível. Agora, apenas universidades privadas aceitam brasileiros sem qualquer formação no Idioma Espanhol.

            O que Milena pensa do nosso curso?

            “Precisei do Espanhol para estudar no exterior. Apesar do tempo reduzido que tive para aprender o idioma, creio que o curso intensivo será essencial para uma boa comunicação fora do país. As aulas foram inteiramente em Espanhol desde o primeiro momento, o que ajudou a ter uma familiaridade muito maior com a Língua Espanhola, que por muitas pessoas é vista como fácil por sua proximidade com o Português. Entretanto, falar bem o Espanhol não é fácil, é uma língua complexa, mas nada que boas aulas e um pouco de dedicação não resolvam. Ainda tenho um longo caminho pela frente, mas depois de algumas aulas tive certeza de que era possível eu adquirir fluência para poder iniciar tranquilamente minha vida acadêmica no exterior sem me preocupar com o idioma.”

             Qual é o segredo do progresso rápido de alunos como Milena?

            A juventude e o vigor contam, naturalmente, assim como a preparação prévia. A língua escolhida também proporciona uma via expressa, pois adaptar-se ao Espanhol é mais fácil e rápido do que assimilar o Francês ou o Inglês. No entanto, é a plasticidade ou capacidade de se deixar moldar que faz a grande diferença. Este é um fator que infelizmente não pode ser alterado pelo professor na sala de aula.

            O que mais atrasa a aprendizagem é a “dureza” ou “resistência” do aluno ao novo. Essa resistência é neutralizada pela necessidade (é duro, mas tem que aprender) e a evolução pessoal em outras esferas. As pessoas de quem dizemos ter “facilidade” são aquelas que embarcam na primeira chamada e mudam de curso rapidamente quando necessário.

            Para exemplificar meus cursos para adultos, cito inicialmente o casal Moara e Guilherme, os quais se sairiam muito bem como personagens de Star Trek, aquela série de TV tão antiga quanto eu - se lhes fossem dados os uniformes, naturalmente.



            A missão deles é trabalhar no exterior em um futuro próximo, em um contexto plurilinguístico no qual o Francês guarda sua importância.   Além disso, se identificaram rapidamente com o Francês e estão muito motivados, o que faz com que nosso trabalho iniciado em março deste ano já renda bons frutos.

             Começamos o curso pessoalmente, mas tivemos que prosseguir online em função da pandemia.

             A modalidade à distância encaixou-se perfeitamente em seus perfis dinâmicos e habituados ao uso das ferramentas virtuais. O fato de serem um casal também ajuda, no sentido de se poder trabalhar em uma plataforma one-on-one, com uma só conexão. A qualidade do curso online decai proporcionalmente com o número de alunos conectados. Uma e duas conexões funcionam bem, mas, a partir de três, a produtividade cai muito.

            Como eles se sentem em relação ao curso? Vejamos, nas palavras da Moara:

            “Sem sombra de dúvidas, o Francês é uma língua especial e apaixonante! Eu e meu esposo fomos em busca de uma escola de idiomas que nos encorajasse a aprender uma nova língua e o professor Abrão nos deu muito apoiou desde o início! Não paramos durante a pandemia. Ao contrário, foram meses de muito aprendizado e evolução! Estamos muito felizes com nosso desempenho e conhecimento adquirido. Excelente metodologia do professor, da dedicação com nosso progresso e paciência. Merci //Obrigada, professor Abrão”

            Obrigado digo eu, duas vezes. Não viajem tão cedo, por favor.

            O segundo episódio da série Star Trek tem os xarás Thiago e Tiago, abaixo, nos papeis principais.



            Magalhães e Pacífico (ou seja, Thiago e Tiago) são alunos de Inglês no nível Low Intermediate e, quando me procuraram, tinham a missão de dar continuidade à cumplicidade que praticam há um bom tempo enquanto colegas de profissão e de departamento. Houve hesitação inicial quanto à conveniência do formato online para eles, uma vez que, nesse nível, o aluno ainda necessita de muita assistência, tanto para a pronúncia quanto para as estruturas (formação de frases, uso de verbos, etc.). Mais uma vez a familiaridade com o uso das ferramentas da informática foi decisiva. Acrescente-se a seriedade com que encaram o curso, além de persistência e paciência quando as coisas ficam precárias em função de problemas de conexão.

            O progresso que têm demonstrado em seis meses de curso abre um horizonte otimista para os cursos online e comprova que esta modalidade é eficiente, desde que sejam considerados os fatores já mencionados.

            Finalmente, há cursos que, por suas características, não podem envolver tarefa ou dever de casa e necessitam que tudo seja resolvido diretamente, seja gramática, pronúncia ou vocabulário. Poderíamos chamá-los de Cursos Executivos, pelo perfil do público interessado, geralmente diretores de departamentos ou de empresas, pessoas de agenda cheia e imprevisível. Se já é difícil fixar um horário regular de aulas, melhor esquecer as tarefas, a menos que se trata de um assunto de interesse direto do aluno.    

            Os executivos têm ojeriza a gramática, mas aceitam de bom grado o dicionário, afinal, o forte deles tem que ser mesmo o vocabulário. E são ótimos comunicadores, além de confiantes e proativos. O conceito de curso customizado se realiza plenamente com este grupo.

            Além dos temas habituais de economia, negócios e política, há uma gama vasta e interessante de tópicos a serem explorados, como tecnologia, a crescente importância do meio ambiente e as questões sociais.            Outra vantagem é o fato de os cursos desse tipo se encaixarem muito bem no formato online.

            Edimar Cardoso é um representante deste grupo. Ele é open-minded, curioso e dedicado. Apesar do stress inerente à função e sua rotina de contatos, reuniões e decisões, consegue usar muito bem o tempo da aula como formação e détente.  



            Digno de nota é o fato de Edimar estudar também Francês, embora não comigo. Esse esforço em assumir uma posição de comunicador polivalente (ou poliglota) é recompensado com amplas oportunidades na vida profissional e pessoal. No entanto, nem todos têm o senso crítico que os faz procurar um curso formal para falar bem os idiomas.

            Encerro assim esta breve apresentação do meu trabalho no campo das línguas estrangeiras. Espero ter contribuído para a compreensão do tema, sobretudo de parte daqueles que buscam um professor particular.

            Gratos pela leitura e não hesitem em me contatar se tiverem interesse.

           


©

Abrão Brito Lacerda

01/10/20

           

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