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ENSINANDO LÍNGUAS ESTRANGEIRAS A CRIANÇAS


            Lidar com criança significa ter contato com o ser humano em seu estado mais puro e autêntico e ter a oportunidade de reexperimentar as alegrias simples da vida. Quando nos tornamos adultos, adquirimos a seriedade e a responsabilidade, com a criança temos que equilibrar esses dois aspectos de uma forma diferente, brincando, orientando, protegendo e corrigindo sem deixar rastros.
            Na idade tenra, os superlativos despertam de forma natural, desde que o ambiente seja adequado. A criança precisa se sentir segura e isso acontece com a criação de um meio lúdico e atrativo, ao invés de austero e impositivo. Praticamente tudo se pode obter da criança ao fazê-la imitar gestos, palavras e ações. São uns belos camaleões.
            A criança age por imitação, ela reproduz com candura e sem malícia os gestos que lhes ensinamos. No entanto, é preciso que haja movimento, variação, jogo e diversão. Transformar as tarefas mais difíceis em uma brincadeira é meio caminho andado para o sucesso com esse pequeno público.
            Outro aspecto interessante da aprendizagem da criança é que ela começa de forma lacunar, sobretudo com as idades mais tenras, com palavras muito mais do que frases. Vai então se transformando em discurso, que ganha gradativamente fluência e coloração. No entanto, isso não se dá de forma linear, há muitos vais e vens e é preciso fazer uso de outra qualidade necessária: a paciência. Algumas aquisições se processam lentamente, outras parecem se fazer aos saltos. A meu ver, isso se deve a essa característica de assimilar muito vocabulário e depois usá-lo na forma de discurso corrido. De forma silenciosa, a aprendizagem se opera na mente da criança, e nós, adultos, acostumados às demonstrações imediatas, ficamos surpresos quando essa desabrocha.           
            Comecei a trabalhar com o ensino de Inglês, Francês, Espanhol e Português para Estrangeiros para crianças após ter consolidado minha carreira como professor de adolescentes e adultos. Em um curso de língua estrangeira, a criança difere dos demais por outros aspectos. Ela é mais sensível e o trabalho psicológico é muito mais determinante. Por isso, as correções devem ser equilibradas com os elogios, os quais constituem os momentos altos das aulas. Completada uma tarefa, um belo elogio e a autorização para se distrair ou brincar um pouco significa ganho de  causa.
            Quando se perde o senso da medida com relação à cobrança e à crítica, os resultados podem ser comprometedores. Se houver antipatia e rejeição, está encerrado o curso. O fundamental é construir uma relação de confiança e cumplicidade, exercendo a autoridade e o controle com sabedoria. Os pequenos adoram adultos que não se distinguem deles no humor, na criatividade e no gosto pelo lúdico. Quem não gosta de brincar não sabe ensinar crianças.
©
Abrão Brito Lacerda
18 11 18

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