Pular para o conteúdo principal

A ARTE DE ENSINAR


       

        
            Trabalho como professor de língua estrangeira desde 1989, quando debutei na Aliança Francesa de Belo Horizonte, a mais tradicional escola de idiomas da cidade, criada em 1944, e uma das melhores. Devo à Aliança minha formação e minha carreira, uma vez que sou graduado em História pela UFMG.
            Iniciei-me no Inglês, assim como no Francês, quando tinha vinte anos e já estava na universidade. Mas o meu caminho na aprendizagem destes dois idiomas foi completamente diferente. Para o Francês, fiz a formação completa da própria Aliança Francesa até o último certificado da Universidade de Nancy. De parte do Inglês, tive uma formação irregular, o que me levou a optar pela autodidática. Obtive desta forma todos os certificados do idioma através da Universidade de Cambridge, incluindo Proficiency e Business English II. Posteriormente, dei mais um passo: decidi estudar o Espanhol por conta própria. A aprendizagem deste último idioma em relativamente pouco tempo ajudou a consolidar minha concepção do ensino-aprendizagem e aprimorar minha didática.
           Tendo mudado para Timóteo em 2001, cheguei à cidade ensinando dois idiomas e aqui me tornei professor de quatro, ao incorporar a meu portfólio, além do Espanhol, o Português para Estrangeiros. Aqui readquiri o sentido de comunidade que tinha perdido na cidade grande e consolidei a carreira que hoje compõe minha identidade.
        Minha abordagem como professor é comunicativa, direta, simples e extremamente eficaz, baseada no princípio elementar do exemplo e da repetição. Procuro compreender cada aluno e construir a aprendizagem junto com ele, adaptando o conteúdo e o ritmo a cada perfil. Sou um professor student-friendly, assumo praticamente toda a responsabilidade, construo as pontes para o sucesso e minimizo os riscos de fracasso.
            A seguir, uma breve apresentação de alguns dos meus cursos atuais, com alunos dos cinco aos quase setenta anos. Agradeço antecipadamente a eles por terem gentilmente aceitado posar para selfies e abrir mão de quaisquer demandas de direitos de imagem junto ao autor deste texto, o professor que tira ouro do nariz.


            Para começar, Giovana - fiu! fiu! Giovana é aluna nota dez de Francês, dar aula para ela é um prazer e uma diversão séria. Ambos detestamos a direita, os caretas e o preconceito. Além disso, ela viaja e me conta tudo depois na aula, de modo que fico sabendo das últimas de Londres, Nova Iorque e Montpellier.  


            Olhaí o casal vinte, aquele seriado que passava na TV há uns vinte anos atrás. Neste episódio eles são Ana Lúcia e Fábio e trabalham na empresa Aperam. São inoxidáveis e divertidos, têm planos de ir pra França, sim senhor, por isso estão estudando Francês. Dentro de pouco tempo, quem sabe, estarão dizendo au revoir.


            Outra versão do casal vinte, em estilo mais maduro. Neste episódio, ele mudou de nome e agora se chama José de Oliveira, mas ela ainda se chama Ana Lúcia. São membros do Rotary Club de Acesita, que mantém relações com o Rotary de Charleroi no sul da Bélgica. Há alguns meses estiveram na Europa e José impressionou os gauleses com um discurso em Francês. Parabéns, José e Ana Lucia, é bom demais tê-los como alunos!   


            Apresento-lhes Toninho, meu aluno de Inglês. Antônio é empresário e tem planos para voos fora do Brasil, e aí, a língua inglesa se impõe naturalmente. No início do curso ele me propôs um desafio: “Quero ver você ensinar burro velho a falar!” Mas, Antônio, o burro é o bicho mais esperto da fazenda. Os cavalos é que dão com os burros n’água!


            Outro empresário com planos de se internacionalizar é o Marcone – logo, aluno de... Inglês! Marcone é o cara mais proativo que conheço. Tem jeito de paulista, vai ao ponto, não perde tempo com bijuterias, nem com nossos políticos. E olha que, se fosse candidato, eu votaria nele.


            Se precisar de uma pessoa perfeccionista, chame a Patrícia, mas duvido que ela tenha espaço na agenda. Ela é minha aluna regular de Inglês e às vezes também de Francês. Possui disciplina, compromisso e gosta de desafios. 


            Tom, este francesinho de cinco anos, é o caçulinha da turma. Vem me ver todos os dias para aulas de Português. Tem um desafio imenso que sua inocência não deixa perceber: alfabetizar-se em uma língua estrangeira sem ter ainda sido alfabetizado em sua própria língua, adaptando-se ao mesmo tempo ao ritmo de uma escola regular do ensino fundamental. Mas as crianças são como molas: acumulam energia e depois se soltam, surpreendendo a gente.


            Romain é o pai do Tom e também meu aluno de Português. Logo de cara eu o preveni que a pronúncia seria o ponto mais difícil. Você pode achar que “ele” e “ela” são palavras totalmente diferentes, mas o Romain pode trocar os gêneros, de modo que “ele” soe “éle” e “ela” soe “êla”. Tem planos de explorar o Brasil de norte a sul e do Pantanal à Ilha Grande. Antes dos portugueses.


            O casal Josi e Filipe são meus alunos de Francês e às vezes também de Inglês. Falamos os dois idiomas, mas não misturamos as tigelas. Filipe já esta com um pé na França e o outro no avião. Não sei onde a Josi põe a cabeça.


            Que lindinhos estes dois irmãos, Valentine e Humberto, vulgo Humbertino (11 e 8 anos respectivamente)! Estudam Francês e são um exemplo de como as relações familiares se consolidam desde cedo: ela sabe dar tempo ao irmãozinho, que é mais  imaturo. No final, nos divertimos todos com música, desenhos e mímicas. Se alguém me vir rolar pelo chão, não estranhe: faço qualquer coisa pelo métier.


            Adonhiram é empresário e a Geovany é empregada da Aperam, está subindo na carreira e pega o avião quase todo mês. Estão juntos no Inglês porque compartilham o mesmo dinamismo. Do Adonhiram já contei uma anedota que repito aqui: Perguntei: Where are you from? (De onde você é?) e ele respondeu: I’m from “Sperfilis” (Sou de “Sperfilis”). Repeti a pergunta e tive a mesma resposta. Só adivinhei o nome do lugar quando ele disse que era perto de Carangola. Gente, ele é de “Espera Feliz”!


            Érico e Pedro se complementam muito bem como colegas de curso de Francês. Isto porque são companheiros de empresa, da qual absorveram o profissionalismo e a eficiência. Enfrentam jornadas puxadas, como seus demais colegas, e à noite encaram a sala de aula, muitas vezes com jornada dupla de estudos. Mas estão no auge, têm hard disk para muito mais.


            Agora o Rai ou Raí, ele precisa me ensinar como devo dizer seu nome. Rai (ou Raí) está estudando Inglês, tem ouvido de músico e ritmo idem. Só não montamos uma banda porque ele é jovem demais para o punk rock e sua família é evangélica. Taí, punk evangélico, vou propor a ele!     

      
            Cauã nasceu com o mesmo nariz que eu, mas sem óculos. Estuda Inglês e Espanhol e me paga uma mixaria por isso. É tão bom aluno quanto avoado, pode muito bem, durante uma aula, me tomar por um personagem de The Clone Wars, A Guerra dos Clones.


            Este aí acima é o grande Davi, que está indo com os pais para o Quebec e precisa aprender Francês até o final do ano. Davi é ótimo aluno e tem um notável senso de humor. Curso fácil, sucesso garantido.
            

            Jadir tem demanda urgente com relação à Língua Inglesa, então isso é trabalho para o professor Abrão! É engajado e dinâmico, demos uma ótima arrancada e temos fôlego para chegar entre os primeiros.       
 

            Joyce é a simpatia em pessoa, e quem a vê assim sorridente nem imagina que ela está under pressure, no sufoco. Precisa falar inglês até novembro, antes se possível. Propus o implante de um chip, mas ela recusou. Então, vamos ao bom e velho método interativo. Take it easy, Joyce, life’s long and we’re still young.



             Rubens segue uma rotina puxada de trabalho durante a semana e, no sábado de manhã, estuda Inglês. Às vezes precisa faltar e esquece o que estudamos da última vez, mas nada que afete sua determinação. Ele possui a resiliência dos que estão acostumados a trabalhar com o aço e, no final da aula, está falando Inglês fluente. 


            A Júlia Minas é a única ex-aluna desta série e está aqui porque me enviou a seguinte mensagem quando eu estava escrevendo este texto (con tu permiso, Júlia): “Hoje fiz minha primeira monografia em espanhol! Lembrei muito de você e das nossas aulas. Quando eu for de férias, quero estudar francês! Um abraço.” A Júlia é hoje destaque entre os estudantes brasileiros de medicina da Fundación Hector Barceló em Buenos Aires. Nosso curso de Espanhol foi de cinco meses, três vezes por semana. Um sucesso, por supuesto.
            A arte de ensinar é a habilidade de multiplicar o conhecimento, transformar água em vinho, como na fábula bíblica, transformar-se junto com o aluno, ter os pés no chão e sonhar ao mesmo tempo, não prometer sem cumprir e assim somar a cada aluno uma nova conquista. Este é o meu ofício.
            Obrigado a todos os alunos que gentilmente aceitaram aparecer nas fotos, sem cobrar direitos de imagem por isso.

©
Abrão Brito Lacerda
27 09 18
            

Postagens mais visitadas deste blog

CONTÁVEL OU INCONTÁVEL, EIS A QUESTÃO

            Você que é falante de português talvez nunca tenha se dado conta de que alguns substantivos são incontáveis e, portanto, não podem ser geralmente usados no plural. Para coisas concretas como feijão (tem muito feijão) ou abstratas como paciência (pouca paciência), o sentido não oferece dificuldade aos usuários de nossa língua: feijão é comida e feijões são tipos diferentes ou os próprios grãos. Nenhum de nós diria “tenho muitas paciências”, não é mesmo? Mas os determinantes que usamos em português são os mesmos para substantivos contáveis e incontáveis: a, uma, muita, pouca paciência, e o mesmo para o, um, muito, pouco feijão ou qualquer outra coisa. Mas em inglês os incontáveis requerem um tratamento particular que é essencial para o bom uso do idioma, de modo que é preciso sempre saber: este substantivo é contável ou incontável? Para tornar a tarefa mais complicada, o número de substantivos incontáveis é muito grande.             Para nós, tanto faz “procurei infor

SEGREDOS DE UM CURSO ONLINE DE SUCESSO

                 O trabalho virtual não é essencialmente diferente daquele realizado presencialmente. As mudanças são mais de forma, como, por exemplo, com o uso das novas ferramentas. No caso dos cursos particulares de idiomas, tão importantes para a formação otimizada de um vasto público que vai de crianças a chefes de empresas, a passagem ao virtual acrescenta vantagens que compensam qualquer outra perda. Contudo, mesmo depois do Covid-19 e do enorme avanço das atividades em linha, ainda persistem dúvidas quanto a eficiência de um curso de línguas nesta modalidade.             Do ponto de vista prático, o que é a aprendizagem senão uma repetição de modelos que, pela força do hábito, acabam sendo assimilados, a ponto de se tornarem automáticos e naturais? A autoexpressão, no que ela implica de desenvolvimento de um estilo pessoal, só desabrocha a partir dos níveis mais avançados. Basta nos lembrarmos de como as crianças imitam os adultos e como aprendemos a nossa própria língua, a

¿HABLAS ESPAÑOL?

  (Crédito imagem: BBC.com)                        Los brasileños suelen dudar de la importancia del idioma español, pese a las evidencias estadísticas: el español es la segunda lengua extranjera más hablado del mundo, trás el inglés y disfruta hoy de una propagación creciente no solo en EEUU pero también en Asia, como, por ejemplo, en China, donde forma ahora parte del curriculum de las escuelas   públicas a partir del nivel elemental. Se puede preguntar porqué ese desprecio por la lengua de Cervantes, una vez que estamos cercados de hispanohablantes, con los que tenemos relaciones comerciales y sociales permanentes.             La primera respuesta puede ser la omnipresencia del inglés, que ocupa case todo el espacio hoy dedicado a los idiomas extranjeros entre nosotros. Una otra respuesta posible es la idea de que el español se puede comprender com relativa facilidad, así que, con un poquito de paciencia y atención, se puede involucrarse en una conversación, siempre   que